Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me de teu filho.
Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos cançados.
[...]
Ah, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um vôo de ave
E me entristeço!
Por que é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Por que vai sob o céu aberto
Sem desvio?
Por que ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade
Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minh'alma alheia
Um desejo não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei que do vôo suave
Dentro de meu ser.